Seus olhos

O final da luz do dia já acabou. A escuridão já tomou conta da rua. É quase impossível enxergar. A única luz, além da dos pirilampos, é uma bem fraca vinda de um único poste enferrujado. Começo a ver então, longe do campo de luz do poste, um brilho muito intenso e fascinante. Me perco por um tempo tentando descobrir o que é aquilo. À medida em que se aproxima e é gradualmente iluminado, a emoção toma conta de mim. Um aperto no peito de surpresa e um fraquejo nas pernas ao finalmente descobrir a origem do brilho. Percebi que era o olhar, o olhar que eu costumava olhar no retrato todo dia antes de adormecer. O olhar pelo qual deixei várias lágrimas caírem. A razão de todas as noites mal dormidas. O olhar pelo qual eu magicamente me apaixonei. O olhar da pessoa que eu amei. Um brilho incrível, que eu nunca me esqueceria. O olhar dele. Vinha acompanhado também de um sorisso, um sorriso que mesmo do escuro eu podia ver que era sincero. Ele parou, pelo jeito esperou minha reação, continuou sorrindo. Levei minha mão à boca sem acreditar. Havia esperado tanto tempo por aquele momento que nunca aconteceu. Agora, inesperadamente, estava ali, em frente à mim. Por impulso corri até ele. Sem hesitar o abracei e me veio à memória todos os momentos bons que tinham passado. O aconchego e o carinho eram imensos. Acariciei o rosto macio, passei as mãos pelos cabelos sedosos, e finalmente vi de perto aqueles olhos.

Por Ana